Surfista de 70 anos se aventura no snowboard em rara neve de SC
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Mesmo antes da chegada do inverno, neste 21 de junho, Santa Catarina registrou nas Ășltimas semanas frio intenso, com temperaturas negativas, especialmente nas serras. Ă lĂĄ onde vive Fernando Moniz, que, aos 70 anos, aproveita os raros dias de neve para praticar snowboard, o surfe na neve.
Em vĂdeos publicados nas redes sociais, Moniz brinca nas geladas montanhas do Sul do Brasil com a neve rasa, na qual ele adapta seus esportes preferidos.
Moniz jĂĄ foi "shaper" de pranchas (que faz os equipamentos), navegador e pescador. Ainda Ă© surfista, maratonista, trilheiro, praticante de asa-delta e outras aventuras, um autodenominado amante do esporte.
Hoje, intercala a profissĂŁo de chef de cozinha, em Urubici, cidade que disputa o tĂtulo de mais gelada do paĂs com Urupema e SĂŁo Joaquim, com os momentos de snowboarder e de surfista do rio Canoas.
A neve em Santa Catarina tem sido pouca, mas Moniz consegue se aventurar deslizando pelas montanhas, que chegam a 1.800 metros de altitude.
Com pouco mais de cem inscritos em seu canal do Youtube, não é fama que ele diz procurar. "Até falo para galera nem dar like, porque o que importa é a aventura", diz.
Moniz nasceu no Rio de Janeiro e, depois de morar em vårias praias de Santa Catarina, estå hå 20 anos em Urubici. "Quando começa a ficar muito movimentado, eu saio. Foi assim que vim para cå, e vivo com uma absurda qualidade de vida."
Chef em seu restaurante, no centro da cidade, ele intercala os pratos personalizados com o surfe na neve. Com a bagagem dos esportes radicais, conta que nĂŁo foi nada difĂcil descer as montanhas. "A sensação Ă© de liberdade e beleza."
Ele lembra que jĂĄ praticou snowboard na PatagĂŽnia, na Espanha e em Portugal. "Mas o negĂłcio Ă© o diferente, a coisa rara. NĂŁo tem comparação. Se eu coloco um vĂdeo esquiando na Europa, ninguĂ©m liga. Agora, um vĂdeo naquela neve sem vergonha [risos], Ă© coisa rara", diverte-se.
Moniz conta que atĂ© chama os amigos. "Tento arrastar quem eu posso para brincar, mas geralmente sou eu sozinho", diz, lembrando que, na maioria das vezes, Ă© ele mesmo quem grava os vĂdeos. Mas nĂŁo usa celular. "Fiz uma experiĂȘncia, nĂŁo gostei. Em todo lugar que vocĂȘ vai, tem alguĂ©m atrĂĄs de ti; a vida fica amarrada naquilo."
A maior nevasca que Moniz enfrentou em Urubici foi em 2010. "Foram cinco dias sem sol nem neblina. A neve nĂŁo derreteu, deu meio metro de acĂșmulo, e de lĂĄ para cĂĄ estou ligado em todas as neves", afirma.
"Eu sou o Ășnico surfista da cidade e surfo no rio tambĂ©m", destaca. Com uma prancha de surfe e um cabo de wakeboard amarrado a uma ĂĄrvore, Moniz "pega onda" no rio Canoas. "A gente inventa coisa para se divertir, para se movimentar e praticar um esporte."
A Ășltima neve que caiu em Urubici foi no dia 17 de maio de 2022, quando a temperatura chegou a -2°C, e a sensação tĂ©rmica era de -16°C. "Ela aparece na roupa, mas nĂŁo chegou a armazenar", aponta o meteorologista ClĂłvis Correa, do Epagri/Ciram (Centro de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina).
Ele explica que a intensidade da neve Ă© medida pela profundidade que acumula no solo. Com atĂ© dez centĂmetros, Ă© considerada moderada. Mais que isso, Ă© forte. No Brasil, ela geralmente Ă© leve. "Pode nĂŁo acumular, sĂł ficar em tecidos ou grama, e nĂŁo tem como medir, pois Ă© muito espaçada."
Ainda assim, Moniz aproveita cada dia da neve em Santa Catarina, nĂŁo importa a intensidade do gelo ou do dia. "A vida tem que ser livre e leve", conclui o surfista.