Presente em três Olimpíadas, Robenilson de Jesus fala de seu retorno aos ringues

Robenilson de Jesus durante luta nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro (Foto: YURI CORTEZ/AFP via Getty Images)
Robenilson de Jesus durante luta nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro (Foto: YURI CORTEZ/AFP via Getty Images)

Com um porte franzino, olhar doce e bons modos, Robenilson Vieira de Jesus, 34, é bem diferente dos estereótipos propagados sobre boxeadores, porém ao ver sua técnica apurada e resiliência sobre o ringue que o conduziram a participar de três edições dos Jogos Olímpicos, se nota que é um nome respeitável do esporte de luvas e quaisquer dúvidas são dissipadas.

Quando amador foi peso-mosca e participou dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016. Apesar de não ter medalhado, tem essas três honras em seu currículo, porém vale ressaltar sua conquista do Bronze no Pan de Guadalajara como peso galo em 2011, e ouro nos Jogos Sul-americanos de 2013 no Chile.

Pupilo de Luiz Dórea, técnico campeão mundial com Acelino “Popó” Freitas, Robenilson iniciou a carreira como pugilista profissional em 2017, voltou em 2019 para mais duas lutas e mais um retorno em 2022, sagrou-se vencedor em todos os combates tendo vencido o último em agosto por nocaute técnico. Nestes intervalos tem atuado como técnico de atletas de boxe amador, profissional e MMA.

Em entrevista exclusiva ao Yahoo Esportes, Robenilson relembra a carreira olímpica, aponta a relação da Bahia com o boxe, as dificuldades de atuar como profissional de boxe em solo brasileiro e a realização do trabalho como técnico de pugilismo.

Yahoo Esportes: Como foi seu início no boxe?

Robenilson de Jesus: O meu início no boxe foi muito curioso. Através de um amigo, chamado Emerson, que já treinava boxe, e, queria ter um espaço para ensinar aos jovens do bairro. Foi quando tive a ideia de ceder o galpão da casa de minha mãe e lá dei os meus primeiros golpes.

O boxe é muito forte na Bahia. Como se dá essa relação do pugilismo com a sociedade?

Sim, o boxe na Bahia é, sem dúvidas, um dos melhores do Brasil. Anteriormente, o boxe era visto como um esporte violento, no entanto, estamos mostrando que através dele resgatamos e mudamos o destino de diversos jovens das comunidades. Temos campeões olímpicos, mundiais, sul-americanos, Pan-Americanos, mostramos resultados e, com isso, a sociedade passou a enxergar a nobre arte como um instrumento de inclusão social, que ela de fato é.

O que pode falar da sua experiência como atleta olímpico?

Surreal e único. Especialmente por ter participado de três edições. É para mim algo muito satisfatório. É de uma grandiosidade ímpar, ser atleta olímpico. Todo atleta deveria ter essa experiência.

Como foi a transição para o boxe profissional?

Existe uma frase que diz: “tudo é difícil, escolha o seu difícil”. Encarei como mais um desafio na minha carreira pelo fato de ter vivido três ciclos olímpicos. O boxe profissional é totalmente diferente, desde a preparação até a forma de lutar. Mas estamos aí, sempre prontos (risos).

Dentro do profissionalismo você ficou um tempo afastado e retornou recentemente com vitória. Como se deu este processo?

O boxe profissional no Brasil ainda é uma realidade aquém do boxe dos EUA e de alguns países da Europa. Eu recebi diversas propostas, mas todas em outras categorias de peso e em cima da hora. Disse “não”!

Voltei no momento oportuno, além de ter feito uma promessa para Heitor, meu filho, que ele me veria lutar de perto e eu consegui dar essa alegria para ele. Tenho que falar também sobre três pessoas que Deus colocou na minha vida: Bruno S.A, Breno Casagrande e Victor Casagrande. Três alunos que se tornaram grandes amigos e me incentivaram nesse retorno.

Qual acredita ter sido o adversário mais duro nos ringues?

Acredito que eu mesmo. Não há adversário mais difícil que a nossa mente. Mas vou citar Shakur Stevenson, pelo fato dele ser canhoto e ter um tempo de resposta muito rápido.

Como é sua relação com Luiz Dórea?

Muito boa! Temos uma relação pautada no respeito. Sou muito grato pelas oportunidades que ele me deu no esporte. Tenho o Luiz Carlos Dórea como pai pelo todo suporte que me deu na caminhada para ser atleta de alto rendimento.

O que pode falar do trabalho como treinador de boxe?

Existe um conceito de um psiquiatra americano chamado William Glasser que diz: “95% da efetividade do nosso aprendizado está quando ensinamos, seja ao explicar, resumir, estruturar, definir, generalizar, elaborar ou ilustrar o conteúdo para outras pessoas”.

Para mim, tem funcionado exatamente assim! Penso que ao ensinar, além de ajudar os alunos e os atletas que treino, aperfeiçoei a minha maneira de boxear. Sou um atleta muito mais completo. Me tornar o Robenilson treinador, foi uma virada de chave e tanto para a minha carreira de atleta.

Você é tido como uma das pessoas mais idôneas do boxe brasileiro. Como é ser visto assim pelos seus pares?

Eu aprendi que legado não é o que a gente deixa para as pessoas, mas, o que a gente deixa nas pessoas. E partindo desse princípio, deixo o meu melhor por onde passo, afinal, não sei se terei a oportunidade de estar lá novamente. Levo o meu boxe e os meus princípios por onde vou.