Seattle Sounders x Al-Ahly: como o 'showbol dos EUA' moldou o caminho do primeiro time americano no Mundial
O americano Brian Schmetzer, de 60 anos, estĂĄ acostumado a ser uma exceção. Nesta edição do Mundial de Clubes, ele Ă© o Ășnico tĂ©cnico tĂ©cnico nativo da equipe que comanda entre todos os participantes. A longa conexĂŁo com o futebol de Seattle, sua cidade natal e de onde nunca saiu desde que se tornou treinador, hĂĄ 22 anos, foi o que o ajudou a abrir mais uma exceção na carreira: seu Seattle Sounders entra em campo nesta sexta-feira, contra o Al-Ahly (Egito), Ă s 16h, apĂłs quebrar uma hegemonia de 16 anos de times mexicanos na Liga dos CampeĂ”es Concacaf, levando um time da MLS pela primeira vez ao torneio da Fifa.
Na decisĂŁo do torneio, disputada em abril e maio do ano passado, os Sounders empataram o jogo de ida contra o Pumas (2 a 2) e amassaram o tradicional time mexicano na volta, um 3 a 0 com brilho de RuidĂaz e Lodeiro no Lumen Field. Foi a terceira conquista de um time americano na competição, a primeira em 22 anos.
O estilo moderno, de pressĂŁo alta, parece contrastar com a histĂłria de veterano de Brian no futebol do paĂs. Apaixonado por futebol por influĂȘncia do pai, um ex-jogador de divisĂ”es inferiores do futebol alemĂŁo, o jovem Schmetzer navegou pelo esporte da infĂąncia Ă adolescĂȘncia. Logo que deixou o ensino mĂ©dio, rumou Ă carreira profissional: em 1980, foi contratado por uma primeira encarnação dos Sounders. Ali começou uma histĂłria que acompanha a evolução do futebol como modalidade e como liga profissional nos Estados Unidos.
Na época, eram muito populares as ligas de "futebol indoor", uma modalidade disputada em gramado sintético com 5 a 7 jogadores por equipe, muito parecida com o showbol e o fut7, embora com regras próprias. Para ter minutos de jogo, o jovem atacante alternou entre ligas indoor, na época associadas aos clubes profissionais, e o futebol de campo. Nessa trajetória, entre a elite e a margem dos clubes locais, viu as ligas dos Estados Unidos se transformarem diversas vezes até o atual formato da MLS.
No meio da carreira, deu os primeiros passos como tĂ©cnico. Desde o fim dos anos 1980, jĂĄ atuava como jogador e assistente tĂ©cnico. Em 1995, tornou-se auxiliar de vez no Seattle SeaDogs, uma franquia de futebol indoor associada Ă tambĂ©m extinta franquia de basquete da cidade, os icĂŽnicos Seattle Supersonics. AtĂ© 1997, foi sua Ășltima experiĂȘncia com a modalidade, antes de migrar de vez para os gramados, novamente no Sounders â jĂĄ em nova encarnação, diferente da atual e disputando uma liga alternativa.
â Ă fĂĄcil ser de Seattle e torcer para os times locais. Sempre torci para os Sounders. Amo os Sonics, os Mariners (beisebol), os Seahawks (futebol americano) e os Huskies (ligados Ă Universidade de Washington). Temos uma cidade esportiva vibrante. Ă fĂĄcil para mim, um cara que ama esporte e Ă© de Seattle, onde tantos times fizeram sucesso â contou sobre a decisĂŁo de permanecer, quando renovou seu contrato em 2021.
Brian fala com conhecimento de causa. A torcida de sua equipe Ă© conhecida por ser uma das mais apaixonadas da MLS. Acostumada a quebrar recordes, Ă© dona da terceira maior mĂ©dia de pĂșblico da liga em 2022 (33,607 torcedores), atrĂĄs apenas de Atlanta United e Charlotte FC. NĂŁo Ă toa, o elenco Ă© recheado de jogadores sul-americanos, acostumados com o apoio e a pressĂŁo de arquibancadas cheias. O colombiano Fredy Monteiro Ă© Ădolo do clube, que tem o uruguaio Lodeiro, o peruano RuidĂaz e os brasileiros LĂ©o ChĂș, HĂ©ber e JoĂŁo Paulo como alguns dos principais atletas.
Criado no cenĂĄrio underground e que exigia certa malandragem do futebol indoor, o treinador se transformou num profissional de estilo comunicador. Um dos principais pilares de seu trabalho Ă© manter conversas com veteranos de seus elencos a cada grande decisĂŁo tĂĄtica ou mudança na direção do clube. Em conversa com o jornal Seattle Times, hĂĄ alguns anos, revelou que uma experiĂȘncia com o atacante paraguaio Nelson Valdez o fez ainda mais assertivo nessa posição. Na ocasiĂŁo, o jogador o cobrou de forma firme sobre sua saĂda (sem explicação prĂ©via) do time titular. Schmetzer era tĂ©cnico interino.
â Foi um dos momentos que eu percebi que quando digo algo para alguĂ©m, especialmente um veterano, tenho que manter minha palavra e seguir envolvido.
O estilo tem dado certo. Desde que assumiu a encarnação atual do Sounders â foi de interino a efetivado em 2016 â, a nascida para disputar a MLS e que nunca havia chegado longe na liga, foi finalista quatro vezes, em 2016, 2017, 2019 e 2020. Venceu duas, em 2016 e 2019. Agora, tenta honrar a estreia de um americano no Mundial: do sintĂ©tico alternativo aos gramados da elite dos EUA, tentarĂĄ beliscar uma vaga na semifinal do poderoso Real Madrid.