Paratleta santista e tricampeão mundial, Leomon leva inspiração de Pelé ao goalball

Brasiliense Leomon Moreno é um dos principais nomes de uma equipe que tem feito história na modalidade

Leomon é um dos destaques da seleção brasileira de goalball (Foto: Moto Yoshimura/Getty Images)
Leomon é um dos destaques da seleção brasileira de goalball (Foto: Moto Yoshimura/Getty Images)

Ele é referência em um esporte inclusivo. Paratleta, representa o Santos de Pelé e a seleção. Seu papel extrapola a presença dentro - títulos - e fora das quadras (comissão de atletas e ações culturais]. No início do ano, pediu através de uma de suas redes sociais a benção ao padre Zezinho. O sacerdote católico mineiro canta através de suas letras o louvor pela proteção divina às famílias. Este é outro capítulo importante da história do brasiliense multicampeão do goalball Leomon Moreno da Silva, de 30 anos. Ergue as mãos ao céu pela nova graça recebida: a paternidade. Aguarda Alana, fruto do casamento com a também jogadora da modalidade Milena Nogueira.

Natural de Riacho Fundo (área rural de preservação ambiental), com retinose pigmentar - patologia hereditária que causa a perda da visão gradativamente -, o competidor da classe B1 (cegos totais) e da seleção nacional obteve feito histórico. O tricampeonato mundial foi conquistado em dezembro do ano passado em Matosinhos, Portugal. Na final, viraram para cima da equipe chinesa por 6 a 5 e, de quebra, sob o comando do técnico Jonatas de Castro, o grupo garantiu vaga nos Jogos Paraolímpicos de Paris 2024.

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Os brazucas almejam novamente o primeiro lugar no pódio na França. Isto porque já faturaram o ouro em Tóquio 2021, colaborando com a maior participação nacional em evento desta natureza, na delegação que ganhou 72 medalhas. Aliás, os chineses viraram fregueses, pois haviam sido derrotados também nos Jogos disputados no Japão. Os brasileiros ainda chegaram a outros números de destaque superando bicampeões mundiais, os alemães e os lituanos.

Segundo Moreno, que também é massoterapeuta, o sucesso é atribuído ao planejamento que vinha desde as conquistas dos mundiais em 2018. “Voos altos e conquistas individuais dependem da coletividade e humildade”, diz o jogador, artilheiro do país no mundial, com 36 gols.

Como inspiração, Leomon cita o legado de Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, que nos deixou recentemente, aos 82 anos. O atleta do século mudou a visibilidade do futebol. E o ala-pivô, que veste a camisa quatro, destaca o dez histórico do Peixe e da seleção canarinho. Foi criativo, tinha preparo físico e também cumpriu missão política quando foi ministro dos Esportes (1995 a 1998) no governo Fernando Henrique Cardoso

Trajetória

Chegou ao goalball na infância aos sete anos por influência dos irmãos Leandro e Leonardo (curiosamente, nome de famosa dupla de música sertaneja), praticantes da modalidade. Leomon acompanhava os ‘brothers’ nos treinos. A perda de visão paulatinamente não o impedia de experimentar vários esportes. Tais como judô, natação, atletismo, futebol de cinco e xadrez. Tinha no DNA a marca de vencedor com títulos no atletismo e xadrez. Na adolescência visando experiência chegou até a buscar ampliar resistência no grupo feminino de goalball nacional.

No entanto, a trajetória de Leomon passaria por uma batalha emocional em 2011. Teve momentos difíceis com cortes da seleção por descontinuidade técnica. O fato o abalou sim, mas veio a volta por cima. Um ano mais tarde conseguiria com a seleção a prata paralímpica em Londres (2012), depois o bronze em 2016 (Rio). Também bicampeão mundial, alcançaria a artilharia na conquista da Finlândia (2014). Leomonstro, como também é conhecido por seu 1,80 cm de altura e 90 kg, se destaca mesmo pela robustez na carreira. Foi escolhido melhor atleta paraolímpico de 2014 recebendo a premiação do governo federal. Quatro anos após foi convidado a defender o Sporting de Portugal, mesmo clube onde o gajo Cristiano Ronaldo, o CR7, iniciou a carreira. Nesta frente abriu caminho para a oportunidade de brasileiros atuarem no exterior. E também faturou campeonatos em terras lusas (Superligas). Já em 2019 foi honrado com o convite de porta-bandeira da delegação brasileira nos Jogos Parapan-americanos de Lima (Peru). E foi considerado melhor jogador mundial.

História e benefícios

O goalball é um desporto coletivo com bola praticado por atletas que possuem deficiência visual. Traz como benefícios a socialização, conhecimento de lugares e culturas, orientação espacial, mobilidade, aceitação da deficiência e superação de preconceitos.

Foi inventado em 1946 pelo austríaco Hanz Lorenzen e o alemão Sett Reindle como forma de reabilitação. Consiste em arremessar uma bola com as mãos de modo que a redonda entre na baliza do adversário. Cada equipe tem três jogadores e três reservas. Há obrigatoriedade do uso de vendas nos olhos por todos os competidores. A disputa se dá em dois tempos de 12 minutos com três minutos de intervalo Os participantes são arremessadores e defensores ao mesmo tempo. O arremesso deve ser rasteiro ou tocar pelo menos uma vez nas áreas obrigatórias. O objetivo é atingir a rede adversária e marcar o gol.

As balizas têm largura de nove metros por 1,30 de altura. A quadra mede nove metros por 18 metros. A bola tem 76 centímetros de diâmetro e pesa 1,25 kg. Contém um guizo no seu interior para que os jogadores saibam a direção. Baseado nas percepções tátil e auditiva, por isso não pode haver barulho no ginásio, exceto entre o gol e o reinício do jogo e nas paradas oficiais. Os atletas competem juntos nas classes B1 (cegos totais), B2 (percepção de vultos e B3 (atletas que conseguem definir imagens)). A seguir curiosidades no bate-papo com o craque.

Yahoo Esportes – Você defende o Santos de Pelé. Fale da sua referência do Rei no esporte.

Leomon Moreno – Por ser um ídolo do clube que represento, ídolo da seleção mundial, tenho convicção que 99% dos atletas admiram bastante o Pelé. A perda dele foi um marco. E triste. O futebol é um antes do Pelé e outro depois dele.

Você também é fã do CR7, não é mesmo?

Sim. O Cristiano Ronaldo é um atleta que consegue se manter pela dedicação aos treinos, disciplina e objetivos que traça.

Além do goalball, você tem outras atividades? Estuda ou trabalha?

Tenho outros projetos que toco paralelamente. Sou presidente de uma comitiva de Brasília que promove cavalgadas, eventos nessa área da cultura sertaneja. Também sou presidente do Conselho de Atletas do Comitê Paralímpico Brasileiro, que é um cargo bastante estratégico para a representatividade dos atletas brasileiros. E curso jornalismo por meio de um projeto do CPB em parceria com a Universidade Estácio.

Te dá força ser casado com esposa que é atleta da modalidade?

Com certeza me ajuda muito. As cobranças são maiores, ela entende do que eu faço dentro de quadra. Acaba havendo um debate dentro de casa, eu a cobro, ela me cobra, e vamos tendo uma evolução em conjunto. No momento, pela gravidez, ela está impossibilitada de jogar, mas torceu muito no Mundial, me cobrou muito também. E deu super certo.

Na pandemia, você buscou refúgio na companhia de animais em uma chácara perto de sua casa? Como é esta paixão?

Já tenho um amor antigo por equinos. Isso sempre me traz um momento de lazer, de descontração, de tirar o estresse da vida quando estou com meus cavalos. Utilizo como uma válvula de escape para ter momentos de tranquilidade. E ajuda a me desenvolver como pessoa com deficiência também, na questão de equilíbrio, habilidade e coordenação motora.