Maia muda tom contra Bolsonaro e diz que "há chance de ruptura institucional"
Prestes a deixar a Presidência da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) mudou o discurso e agora fala que há risco de “ruptura institucional” caso o candidato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao comando do Legislativo, Arthur Lira (PP-AL), vença a eleição.
“Houve e há uma chance de ruptura institucional. A eleição da Câmara é um divisor de águas nesse assunto. Acho que o presidente da Câmara precisa ser alguém que não seja dependente do governo e que não deva sua eleição ao presidente da República. Com isso, o presidente [Jair Bolsonaro] se sentirá forte o suficiente para ampliar o conflito com as instituições democráticas, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal”, disse Maia ao jornal Folha de S.Paulo.
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A mudança de discurso chama a atenção porque, desde o início do governo Bolsonaro, Maia nunca manifestou risco de real abalo à democracia a ponto de engavetar 60 pedidos de impeachment contra o presidente.
Em oposição a Bolsonaro, Maia conteve o andamento das pautas de extrema-direita e distribuiu uma coleção de notas de repúdio contra os discursos antidemocráticos do chefe do Executivo, mas capitaneou ações na área econômica que agradaram ao mercado, como a reforma da Previdência, ou deram impulso à popularidade do presidente, como o auxílio emergencial de R$ 600 durante a pandemia.
O mandato de Maia, que começou em 2016, termina nesta segunda-feira (1º), totalizando quatro anos, seis meses e 19 dias de comando, o que o tornou o mais longevo presidente da Câmara de forma ininterrupta desde Ranieri Mazzilli (1958-1965).
Em contraponto a Bolsonaro, Maia contribuiu para estabilizar o mandato de Michel Temer (2016-2018), do MDB, envolvido em escândalos de corrupção e salvo de um processo de impeachment.
Nos quatro anos e meio da gestão Maia, a Câmara colocou em andamento uma forte agenda pró-mercado. Além da Previdência, foram aprovadas a emenda constitucional de congelamento dos gastos federais, a reforma trabalhista, a alteração das regras de exploração do pré-sal, a liberação das empresas para terceirizar atividades-fim, entre outras.
Maia diz que, nesse período, seus maiores erros foram não ter avançado na reforma tributária e ter aceitado que o governo levasse a chamada PEC Emergencial, pacote de medidas de corte e controle das despesas públicas, para o Senado, que não a votou.