Há 50 anos, enquanto homem pisava na lua, Santa Cruz tomava hegemonia do Náutico em Pernambuco
Por Eryck Gomes (@EryckWaydson)
O ano era 1969. No dia 20 de julho, Neil Armstrong, prestes a completar 39 anos, tornou-se a face de um marco para a história da humanidade. Pela missão Apollo 11, foi parar nos livros de todas as gerações seguintes como o primeiro homem a pisar na lua. Paralelo a isso, o futebol pernambucano se transformava. Naquela mesma época, o Santa Cruz tomava o protagonismo de um Náutico hexacampeão estadual, casando bom desempenho dentro e fora de campo. Enquanto a bandeira americana era fincada no único satélite natural da Terra, a do Tricolor passava a flamular com mais força em Pernambuco.
Antes do hexa alvirrubro, conquistado entre 1963 e 1968, a maior sequência de títulos no estado era do Sport, um tricampeonato entre 1923 e 1925. O Rubro-Negro, inclusive, era motivo de chacota durante o período de glórias do Náutico por ser vice nos seis troféus do Timbu. Tornou-se hepta ao ser derrotado pelo Santa Cruz na edição de 1969. Apesar disso, o Leão já era o maior detentor de estaduais naquela época, com 18 conquistados até 1962.
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A 55ª edição do Campeonato Pernambucano contou com oito equipes. O Náutico havia conquistado os seis últimos torneios, mas chegava àquele ano de 1969 com uma equipe bem diferente da que brilhara em temporadas anteriores. O Santa Cruz amargava um jejum de 10 anos sem conquistas e ainda viu o Sport ser o campeão do primeiro turno daquele estadual - por pouco, ficou um ponto atrás dos 25 conquistados pelo Leão. Na segunda fase, o Tricolor liderou com 15 pontos, três à frente dos dois maiores rivais. A final seria decidida em três partidas contra o Rubro-Negro, que se tornaram quatro. Era o fim do sonho alvirrubro pelo hepta.
No primeiro turno, o Santa Cruz teve 11 vitórias, dois empates e uma derrota, com 52 gols marcados (3,71/J) e 12 sofridos (0,85/J). No segundo, sete vitórias, um empate e duas derrotas. A equipe tricolor anotou 21 gols (2,1/J) e sofreu 7 (0,7/J). Os dois piores colocados da primeira fase, Íbis e Ferroviário, foram eliminados.
O técnico responsável por conduzir o Santa Cruz ao despertar por títulos após 10 anos foi Gradim, figura serena e retratado por muitos atletas da época como “segundo pai”. Montou uma equipe competitiva apostando na base e em outros jovens da região. Na foto acima, estão em pé Pedrinho, Norberto, Zé Júlio, Zito, Birunga e Ary; agachados, Fernando Santana, Facó, Mirobaldo, Luciano e Nivaldo. Fora de campo, o Tricolor contou com o poder financeiro do descendente de ingleses James Thorp. O milionário injetou dinheiro no clube e, no bicampeonato, em 1970, chegou a dar um automóvel a cada atleta.
Um ponto importante do período foi o casamento de uma boa fase dentro e fora de campo. O presidente do Santa Cruz em 1969 era Aristófanes de Andrade, que também teve influência direta na construção do estádio do Arruda, inaugurado no dia 4 de junho de 1972. A mobilização dos torcedores foi fundamental, no movimento conhecido como Campanha do Tijolo. Tricolores contribuíram de todas as formas, independente de condição social. Cada um doava o que podia. Era comum que alguns apaixonados pelo clube chegassem ao terreno, localizado entre a Avenida Beberibe e a Rua das Moças, com 10, 12 ou 15 tijolos envoltos em papel de jornal.
As quatro partidas finais foram realizadas nos dias 17, 20, 24 e 27 de agosto. No primeiro confronto, na Ilha do Retiro, o Santa Cruz largou na frente com dois gols de Fernando Santana e um de Rubem Salim. O segundo jogo não saiu do 0 a 0 e o terceiro deu Leão, com gols de Fernando Lima e Duda. A decisão aconteceu nos Aflitos. Facó abriu o placar para o Tricolor, mas Duda empatou. O fim do jejum coral acabou aos 35 minutos da segunda etapa, numa cobrança de falta de Luciano Veloso. Aquele foi o 10º estadual do time coral. O artilheiro da competição foi Fernando Santana, com 23 gols.
Aquele gol de Luciano contra o Sport foi um pequeno passo para a carreira do meia, mas representou um grande salto para história do Santa Cruz.
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