Há 30 anos, União Soviética fazia seu último jogo e tinha fim uma potência
MOSCOU (RÚSSIA) - Na quinta-feira, a Rússia goleou o Chipre, em São Petersburgo por 6 a 0 e ficou a um empate de garantir vaga na Copa do Mundo do Qatar, de 2022. Neste domingo, visita a Croácia em Split.
Há exatos 30 anos, em 13 de novembro de 1991, o Chipre também fazia parte da história do futebol russo. Ou melhor dito, do soviético.
Foi nesta data que a seleção da União Soviética realizou a última partida de sua existência, pouco antes da dissolução oficial do estado-nação em 26 de dezembro de 1991. Em 8 de dezembro daquele ano já havia sido assinado o pacto para a independência de todas as 15 nações.
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A partida na cidade cipriota de Larnaca, válida pelas eliminatórias da Eurocopa de 1992, terminou com vitória soviética por 3 a 0. Os gols foram anotados por Sergey Yuran, Andrey Kanchelskis e Oleg Protasov, todos nascidos na Ucrânia.
Este resultado garantiu a URSS no primeiro lugar de sua chave com 13 pontos e a vaga direta no torneio continental, eliminando a Itália, que acabou com 10.
“Adeus Larnaca, olá Gotemburgo!”, escreveu a revista "Futebol" ao relatar o jogo e fazer referência a uma das sedes da Euro em sua edição semanal de 17 de novembro.
A histórica partida está disponível na íntegra no YouTube.
"Para falar a verdade, eu não me lembro de nada deste jogo. Faz tanto tempo. Só agora que você falou que lembrei que ganhamos e fomos para a Euro", admitiu ao Yahoo Esportes o ex-jogador Aleksandr Mostovoi, titular naquele dia.
Ninguém imaginava o que viria adiante no período de turbulência no leste europeu. Tanto que outros periódicos da época já faziam previsões para a participação do time soviético na competição continental.
"Estamos na fase final da Euro", escreveu o jornal "Sport Express".
"Vamos mais uma vez dar os parabéns aos futebolistas soviéticos e ao seu treinador pela boa vitória. Esperamos novos sucessos deles", escreveu a revista "Futebol".
A URSS, porém, não jogou a Euro de 1992, na Suécia. Com a sua dissolução, houve um período transitório tanto no campo político quanto no esportivo, com a criação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI).
"Lembro que tive uma sensação estranha. Não entendia o que está acontecendo. Por que não continuamos juntos com os jogadores da Ucrânia e da Geórgia. A primeira sensação foi um mal-entendido", afirmou Sergey Yuran.
"Decidimos continuar com a CEI porque não queríamos perder anos de futebol. Disseram-nos que a UEFA pode demorar dois anos a reconhecer as novas seleções".
Foi sob esta bandeira que disputou todas as competições entre o fim de 1991 e quase o fim de 1992. Foi assim, por exemplo, nos Jogos Olímpicos de Barcelona.
Na Euro, a CEI, com uma seleção totalmente desfigurada em relação aquela que disputou as eliminatórias acabou em última de sua chave, que tinha ainda Holanda, Alemanha e Suécia.
Até o seu fim, em 1991, a União Soviética foi uma das seleções mais poderosas do planeta e com jogadores lendários, talvez o mais famoso deles o goleiro Lev Yashin, o Aranha Negra.
Entre os feitos mais relevantes da seleção estão a conquista do Campeonato Europeu de 1960, três vice-campeonatos (1964, 1972 e 1988), dois títulos olímpicos (1956 e 1988, este último contra o Brasil) e três medalhas de bronze.
Na Copa do Mundo, teve como melhor resultado o quarto lugar em 1966. Na semifinal, perdeu para a Alemanha Ocidental por 2 a 1, e na disputa pelo bronze acabou superada pela seleção de Portugal também por 2 a 1.
Em Mundiais, a URSS enfrentou o Brasil em duas ocasiões, e em ambas saiu de campo derrotada. Em 1958, revés por 2 a 0. Em 1982, na Espanha, derrota por 2 a 1.
“A desintegração da URSS foi um verdadeiro choque", disse Yuran.
Após idas e vindas, a hora da Rússia
A Euro de 1992 foi a primeira e única competição da CEI. Encerrado o torneio, enfim a Rússia passou a ser reconhecida pela Fifa já com vistas à eliminatória para a Copa do Mundo de 1994.
A primeira partida oficial sob a bandeira russa aconteceu em 16 de agosto de 1992.
O rival foi o México em duelo disputado no estádio do Lokomotiv, em Moscou, e que terminou com vitória russa por 2 a 0.
E o primeiro gol da história da Rússia foi anotado por ninguém mais ninguém menos do que Valeri Karpin, o atual treinador da seleção.
Estônia, Letônia, Lituânia e a Rússia foram as únicas das 15 ex-nações soviéticas que conseguiram se organizar a tempo para jogar as eliminatórias.
A Rússia foi a única que conseguiu se classificar para o Mundial dos Estados Unidos. Nas eliminatórias da Uefa ficou em segunda atrás da Grécia em grupo que tinha ainda Islândia, Hungria e Luxemburgo. Naquela época, os dois primeiros de cada chave iam direto para a Copa.
Nos Estados Unidos, esteve no grupo da seleção brasileira (para a qual perdeu de 2 a 0) e acabou na terceira posição. Perdeu também da Suécia por 3 a 1 e fez 6 a 1 sobre Camarões em jogo que Oleg Salenko anotou cinco gols, recorde que dura até hoje em uma única partida de Mundial.
A Rússia não foi ao Mundial de 1998, 2006 e 2010.
Em casa, em 2018, teve seu melhor resultado, chegando nas quartas de final.
Agora busca a vaga no Qatar.