Flamengo, Palmeiras e Corinthians goleiam rivais nas receitas comerciais
RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - PatrocĂnio de camisa, por si sĂł, nĂŁo enche os cofres. Em um ambiente que vai alĂ©m da exposição estĂĄtica das marcas parceiras, Flamengo, Palmeiras e Corinthians lideraram, com distĂąncia, a lista de maiores arrecadaçÔes com as chamadas receitas comerciais em 2021. O trio embolsou, ao todo, R$ 570 milhĂ”es. Considerando o montante total de R$ 1,074 bilhĂŁo contabilizado pelos balanços financeiros dos principais clubes do Brasil, isso representa 53% do bolo.
Olhando para o volume de recursos gerados, as receitas comerciais representam 15% de R$ 7 bilhĂ”es arrecadados pelos clubes no ano passado Âo Red Bull Bragantino nĂŁo entra na conta porque nĂŁo detalha a origem do dinheiro. Essa linha Ă© formada pela verba oriunda de patrocĂnios, royalties de produtos licenciados, lojas, mĂdias digitais, vendas de camisas, publicidade, entre outros.
Os dados compilados pela consultoria Ernst & Young (EY) apontam uma temporada na qual o Flamengo, por uma diferença pequena, ultrapassou o Palmeiras, ao mesmo tempo em que houve crescimento significativo do Corinthians em relação a 2020. O rubro-negro fechou o ano com R$ 202 milhÔes de receita nesse item, enquanto o Palmeiras teve em R$ 200 milhÔes. Jå o Corinthians atingiu R$ 168 milhÔes, superando com folgas os R$ 89 milhÔes do ano anterior.
"Talvez esse seja o lugar correto do Corinthians, prĂłximo a Flamengo e Palmeiras, se vocĂȘ olhar abrangĂȘncia, tamanho de torcida e, principalmente, onde estĂĄ localizado. O Corinthians jĂĄ deveria estar ali em termos de receitas comerciais hĂĄ algum tempo. A diferença Ă© que o Corinthians, quando se olha para a performance esportiva, nĂŁo teve tĂtulos", comentou Gustavo Hazan, gerente da ĂĄrea de esportes da EY no Brasil.
O crescimento do Corinthians nĂŁo Ă© um fato isolado. O clube conseguiu ir bem numa onda de recuperação posterior ao colapso da pandemia, quando o futebol parou e vĂĄrios clubes tiveram contratos de patrocĂnios suspensos. Os integrantes do relatĂłrio da EY arrecadaram R$ 677 milhĂ”es com receitas comerciais em 2020, contrastando com o bilhĂŁo de 2021.
No balanço, o Corinthians separa o valor que arrecadou em R$ 126,3 milhĂ”es com patrocĂnios e publicidades, enquanto R$ 41,6 milhĂ”es tiveram como origem licenciamento e exploraçÔes comerciais. Em janeiro, a diretoria jĂĄ tinha ressaltado o desempenho no Ăąmbito comercial na temporada passada.
"Geramos uma receita nova muito grande de patrocĂnio e licenciamento, em um ano de pandemia e recessĂŁo econĂŽmica. Mesmo assim, conseguimos trazer receita nova. Uma das grandes realizaçÔes foi uma mudança cultural, deixar de ver a empresa como uma ocupadora de espaço e ver como parceiro, que viabiliza o planejamento do clube", disse na ocasiĂŁo o superintendente de marketing do Corinthians, JosĂ© Colagrossi.
Esse espĂrito de fugir da mera exposição da marca tem sido uma tendĂȘncia compreendida pelos clubes e uma necessidade muito bem aceita pelas marcas, por mais que isso demande um investimento maior por parte delas.
"Os clubes estão estruturando o chamado data lake (lago de dados). Eles sabem se uma pessoa x consome camisa tal, bilhete tal. Então os clubes começam a monetizar esse torcedor de forma correta. O que adianta ter tantos milhÔes de torcedores se o clube não sabe quem ele é? Isso tudo é muito mais do que apenas colocar a publicidade na camisa", acrescentou Gustavo Hazan.
O novo universo que começou a ser explorado envolve, por exemplo, a entrada no mercado de fan tokens e ativos digitais. Esses contratos geram um valor mĂnimo pago aos clubes. Palmeiras e Flamengo ressaltaram esses movimentos nas notas explicativas dos balanços.
No caso rubro-negro, o clube diz ter negociado contratos de patrocĂnio e licenciamento com valores "mais relevantes que os anteriores". Um dos acordos envolveu a ampliação do contrato com a Adidas. Isso ajudou a impulsionar para R$ 160 milhĂ”es a linha de publicidade e patrocĂnios, enquanto licenciamento e royalties trouxeram R$ 42 milhĂ”es ao clube. A comparação com os rivais do Rio expĂ”e o quanto o Fla Ă© dominante.
"Quando vocĂȘ olha para o Rio de Janeiro, o Flamengo gerou 2,5 vezes mais do que Fluminense, Botafogo e Vasco juntos", sublinha Hazan.
O Palmeiras, especificamente, tem uma parceria de longa data com a Crefisa, em uma relação que catapultou Leila Pereira Ă presidĂȘncia do clube neste ano. Mas o clube paulista ainda registrou na rubrica de publicidade e patrocĂnios o valor referente Ă rescisĂŁo unilateral do contrato com a Turner pelos direitos de transmissĂŁo do BrasileirĂŁo em TV fechada.
Em 2020, o Palmeiras arrecadou R$ 120,8 milhĂ”es com publicidade e patrocĂnio. O valor saltou para R$ 184,6 milhĂ”es em 2021, que se somaram aos R$ 14 milhĂ”es com licenciamento de produtos e franquias.
A EY contabiliza que os clubes da elite nacional geraram R$ 3,9 bilhĂ”es em receitas comerciais nos Ășltimos cinco anos  47% delas ficaram com Palmeiras (18%), Flamengo (16%) e Corinthians (13%). Em 2021, os perseguidores mais prĂłximos do trio foram GrĂȘmio e SĂŁo Paulo. CampeĂŁo brasileiro, o AtlĂ©tico-MG tambĂ©m tenta crescer nesse item.
"O GrĂȘmio, por exemplo, nĂŁo Ă© um clube com a mesma abrangĂȘncia que Flamengo e Corinthians, nĂŁo estĂĄ em um estado com o mesmo Produto Interno Bruto (PIB), isso desfavorece. Tem menos torcida, um poder de compra menor, menor capacidade de geração de receita comercial. Os clubes que tĂȘm muito a fazer, por exemplo, sĂŁo Vasco e SĂŁo Paulo, que estĂŁo muito lĂĄ trĂĄs", avalia Gustavo Hazan.