Em meio a escândalos, presidente da Federação Francesa de Futebol anuncia renúncia

O presidente da Federação Francesa de Futebol (FFF), Noël Le Graët, anunciou nesta terça-feira sua renúncia ao cargo após meses de acusações de assédio sexual e moral, informou à AFP um membro da entidade.

Le Graët, de 81 anos, presidiu a FFF por 11 anos, período em que a seleção masculina da França foi campeã da Copa do Mundo de 2018 e finalista no Catar no ano passado.

Sua renúncia chega 13 dias depois da publicação de uma investigação governamental conduzida pela Inspeção Geral de Educação, Esporte e Investigação (IGESR), que concluía que o comportamento do dirigente era "incompatível com o exercício de suas funções e com a exigência de exemplaridade que está ligada a seu cargo".

"Ele tomou a decisão correta para a FFF e para si próprio", reagiu mas tarde a ministra dos Esportes da França, Amélie Oudéa-Castéra.

Mas horas depois, o advogado de Le Graët, Thierry Marembert, anunciou ações legais contra Oudéa-Castéra por "difamação", acusando-a de ter "mentido" sobre o conteúdo da investigação da IGESR.

O relatório aponta as "opiniões públicas fora de lugar" e o "comportamento inapropriado em relação às mulheres", em especial através de "mensagens de texto ambíguas para alguns e com caráter claramente sexual para outros", e "convida as instâncias federais a examinar esta situação aplicando os dispositivos contidos nos estatutos".

Apesar de deixar a FFF, vários membros do Comitê Executivo da federação francesa confirmaram nesta terça-feira que Le Graët assumirá agora funções no escritório parisiense da Fifa, após ser nomeado membro do Conselho da entidade em 2019 por Gianni Infantino.

- Cinco meses de turbulências -

Em setembro de 2022, a revista So Foot publicou uma investigação com trechos de mensagens de texto de cunho sexual enviadas pelo dirigente a funcionárias da federação francesa.

Noël Le Graët negou o envio destas mensagens e a FFF denunciou a revista por difamação. Mas Oudéa-Castéra adotou uma posição hostil e convidou o presidente para uma reunião.

Após este encontro, o Ministério dos Esportes iniciou uma investigação na FFF, cuja encarregada foi a IGESR. Em outubro, a rede Radio France transmitiu depoimentos de ex-funcionárias da federação, que falavam de um comportamento "inapropriado" de Le Graët. Novamente, o dirigente negou "categoricamente" as denúncias, tachando-as de "falsas e mal-intencionadas".

Em 11 de janeiro, ele foi afastado da presidência pelo Comitê Executivo da FFF e, cinco dias depois, a Promotoria de Paris abriu uma investigação por assédio moral e sexual após o testemunho da agente de jogadores de futebol Sonia Souid, coletado pelos auditores da IGESR.

- Philippe Diallo presidente interino -

O relatório final da investigação, publicado em 15 de fevereiro, é devastador e conclui que o dirigente "já não tem a legitimidade necessária para administrar e representar o futebol francês".

Após a renúncia de Le Graët, a FFF lamentou "uma difamação desproporcional da instituição" como consequência da auditoria. Philippe Diallo, de 59 anos, e até agora vice-presidente, vai assumir o cargo interinamente até as eleições de junho.

O primeiro desafio de Diallo será resolver a situação da técnica da seleção feminina, Corinne Diacre, depois que várias jogadoras, incluindo a capitã Wendie Renard, anunciaram que não jogarão pela equipe em um gesto contra a treinadora.

Diallo prometeu nesta terça-feira que resolveria a situação "em um prazo muito curto".

"Eu quero que um grupo de membros do Comitê Executivo possa fazer uma auditoria com todas as partes e fazer algumas recomendações em um prazo muito curto, para preparar o melhor possível a Copa do Mundo", que será disputada de 20 de julho a 20 de agosto na Nova Zelândia e na Austrália, explicou Diallo, que espera as conclusões entre "oito e 15 dias".

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