Documentário de Shaquille O’Neal não cai em adulação e pieguice
A imagem de Shaquille O’Neal com seu uniforme amarelo e roxo dos Lakers cruzando a quadra e enterrando ficou marcada na memória de muitos fãs dos esportes já que, junto de seu ídolo Wilt Chamberlain (1936 – 1999), é tido como um dos gigantes mais dominantes da história do basquete, aquele jogador que é ainda mais alto que os outros e fisicamente imponente.
O ex-atleta também é dono de carisma e inteligência para negócios que fazem seu rosto ser reconhecido até por aqueles que não são fãs da modalidade. O documentário ‘Shaq’ (2022) dirigido por Robert Alexander da HBO traz de forma competente sua história sem cair em erros comuns de documentários de figuras esportivas: adulação e pieguice.
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A obra é dividida em quatro episódios apresentando a infância e adolescência, a ascensão, o descenso e a reinvenção sendo que para cada parte é escolhido um estilo narrativo para não depender apenas do personagem, que por si só é um grande contador de histórias, o que facilita a produção, mas também para fugir do monótono formato de “cabeças falantes”. O que se vê é um trabalho tanto para o fã de basquete que reconhecerá algumas passagens e nomes como também para o leigo que não ficará perdido em termos técnicos.
O’Neal vem de um lar chefiado por um sargento do exército americano que lhe incutiu valores como disciplina e persistência, jogou basquete na adolescência numa base americana situada na Alemanha, e mais velho voltou com a família para os EUA.
Suas enterradas o destacaram já no Ensino Médio e, depois também no Superior, logo veio o draft para o Orlando Magic, e a apoteose com tricampeonato pelos Lakers ao lado de Kobe Bryant, depois veio a nova mudança para a Flórida ajudando o Miami Heat a obter seu primeiro título. Depois o que se viu foi o declínio ao se tornar coadjuvante em outras franquias além de sofrer com lesões. Essas passagens já foram trabalhadas em outros documentários e matérias.
Entretanto, ‘Shaq’ mostra de forma interessante os bastidores contando com vozes e visões presentes naqueles eventos como atletas, técnicos e membros da família. O’Neal transita tanto da alegria quanto para o arrependimento como quando relata que ainda na escola ao brigar após uma ofensa racista quase arruinou todos os planos para seu futuro sucesso, e uma de suas maiores dores ao recordar do fim da amizade com Bryant e a morte prematura do atleta que impossibilitou a reconciliação.
Tanto a maneira com a qual conta sua própria história como as expressões faciais e entonação ajudam, vale lembrar que O’Neal praticava desde a faculdade como se portar com meios de comunicação.
A filmagem mostra também o lado humano dos jogadores não apenas em seu sofrimento, mas ao recontar as batalhas de egos que ocorrem nos esportes, e potencializadas em um jogo envolvendo enormes quantias financeiras e apelo midiático. O trabalho de Alexander o separa do visto atualmente de documentários esportivos americanos que servem para adular os personagens como também de algumas produções da TV brasileira, em particular a aberta.
Não é incomum em produtos brasileiros ver uma choradeira apontando as dificuldades que o atleta passou e mostrar com detalhes a casa humilde na qual residiu ao som de uma trilha sonora limitada e até mesmo caricata, a palavra “superação” sendo repetida exaustivamente e a inserção de famosos que pouco participaram na carreira de tais atletas além do fato de serem fãs esporádicos quando estes ganham campeonatos. Se o atleta termina na pobreza ou é esquecido então é chamado para algum programa das tardes da semana ou dominical em que seu infortúnio é explorado em forma de “ajuda”.
Esta realidade contrasta com o desfecho do documentário de O’Neal, no qual é explicado como se tornou empresário de sucesso, dono de sua própria marca passando por um ciclo no qual aprendeu com o lendário Magic Johnson e repassa seus conhecimentos para jovens como seu parceiro de Miami Heat Dwyane Wade.
Não apenas basquete, mas O’Neal também se apresentou como rapper, DJ, ator de cinema, garoto-propaganda, comentarista esportivo, personagem de jogos de videogames e participante de eventos de pro-wrestling (luta-livre de entretenimento).
O’Neal é tetracampeão da NBA e membro do Hall da Fama, e ‘Shaq’ ajuda a entender o processo que faz de pessoas como eles alcançaram e apelo que possuem dentro da sociedade.
O documentário está disponível na plataforma de streaming HBO Max.