Da “caneta” no ídolo Robben à dor por saída do São Paulo: David Neres detalha evolução no Ajax
“Caneta”. Para os boleiros, a forma de denominar um drible entre as pernas e algo tão comemorado quanto um gol. E a de David Neres em Arjen Robben tem sabor especial. O jovem brasileiro do Ajax, 21 anos, tem como ídolo no futebol o holandês Robben, 34 anos, do Bayern de Munique. No recente confronto entre os clubes pela Liga dos Campeões, em Munique, ficou a marca do drible e uma boa atuação que o projeta cada vez mais no topo do futebol europeu. O empate por 1 a 1 também coloca o Ajax em boa situação para avançar para o mata-mata da competição – após 4 jogos, Bayern lidera com 10 pontos e Ajax é o segundo, com 8. Benfica tem 4 pontos e AEK Atenas nenhum ponto conquistado -.
“Peguei a bola no canto e joguei por baixo da perna dele (Robben). Mas não tinha nenhuma câmera do lado do campo, sacanagem (risos). Parece que só passei a bola pelo lado dele”, contou David Neres em entrevista ao Yahoo Esportes – O lance aconteceu no primeiro tempo e ainda conta com uma caneta no lateral Kimmich-.
A jogada ocorreu pela ponta esquerda do campo. Local em que David Neres foi fixado e que consagrou Robben. A evolução no Ajax o faz projetar os gigantes europeus. Na entrevista, o atacante falou sobre os planos, o momento atual e lembrou com dor a saída do São Paulo após jogar apenas 8 partidas no profissional em 2016 – foram 3 gols marcados sendo o mais especial em goleada por 4 a 0 diante do Corinthians, no Morumbi -.
“Fiz poucos jogos por lá. A torcida e o clube tinham muita esperança em mim, e queriam me ver jogando por muito mais tempo. Eu também fiquei com esse sentimento de não ter jogado lá, de não ter conquistado algo, um título. Fica essa tristeza, mas é o futebol e faz parte”, destacou David Neres.
David Neres está na terceira temporada pelo Ajax e é titular do time. Ele entrou no radar de Tite para ser testado na seleção brasileira em 2019. A rapidez e facilidade para driblar o deixam extremamente valorizado na Holanda mesmo passando por temporada com poucos gols – foram 21 jogos e 3 gols marcados -.
Confira a entrevista de David Neres:
O ídolo Robben
Cara, eu ficava vendo ele pela TV desde pequeno. Ele tem as características que eu gosto de cortar para dentro e bater ao gol. E hoje eu jogo na mesma posição muito por isso. Foi uma satisfação tão grande enfrentar ele.
Antes do jogo contra o Bayern, ele deu uma olhada pra mim e uma piscada, eu fiquei em choque. Depois fui concentrado no jogo e não liguei muito pra isso.
Eu não tive muito contato, pois ele é holandês e fica complicado dialogar. Mas eu tenho uma camisa dele porque pedi para um companheiro do clube que esteve com ele na seleção holandesa durante uma data FIFA.
A escolha pelo Ajax
Eles vinham me acompanhando desde a base na Copa São Paulo. O São Paulo é uma equipe do Brasil muito visada por clubes europeus. A minha negociação foi rápida, mas para mim pareceu demorada. Aconteceu quando eu estava no sub-20 e não fiquei a par de muita coisa. Ela foi finalizada no último dia da janela, foi meio maluco.
O Ajax é um clube formador e dá muita oportunidade para os jovens. Não só Ibrahimovic ou Maxwell, mas como os jogadores daqui. Acho que esse clube é muito bom.
O momento no Ajax
Eu evolui bastante. Estava nas outras temporadas com números melhores, mas creio que em geral meu futebol e meu jogo evoluíram bem. Tenho que evoluir em tudo, sempre temos coisas a melhorar, aperfeiçoar. Eu tenho boa condução de bola, velocidade e boa arrancada. Preciso melhorar finalização que faz a diferença.
No São Paulo e aqui fiz gols muito rapidamente, mas agora estou em fase complicada. Só que sou atacante de lado e tenho outras funções. Mas vejo que os melhores do mundo fazem bastante gols, e eu tenho me cobrado muito para aumentar isso.
Idolatria no Ajax
A maior rivalidade é contra o Feyenoord e meu primeiro gol foi contra eles. Teve um jogo que fui muito bem lá na casa deles. Logo no primeiro clássico fora de casa. Ganhamos de 4 a 1 e dei 3 assistências.
As crianças aqui me conhecem, é legal. E quando eu vou ao Brasil o pessoal me conhece um pouco. Estava na praia dezembro do ano passado e bastante gente me reconheceu. Fiquei um pouco surpreso.
Craque do Ajax
Matthijs de Ligt. Melhor que ele eu nunca joguei. O cara é bom de verdade, ele tem 19 anos, é capitão do time e joga na seleção. Não só ele como o volante Frenkie de Jong. Ele lembra um pouco o Arthur que está no Barcelona, muito bom jogador.
Saída do São Paulo
Eu acho que ajudou bastante, porque aqui (Ajax) é um clube gigante, que pensa na evolução do atleta, tem mais ou menos o pensamento do São Paulo de dar muita oportunidade para os jovens. Amadureci como pessoa, atleta, foi um grande passo.
São Paulo é meu clube de infância, sempre fui são-paulino, fez parte da minha vida inteira, não tem o que explicar. Fiquei lá desde os meus 10 anos, e o clube teve grande participação para ser o que sou hoje.
Agora está o André Jardine (técnico interino do Sao Paulo), e ele que me treinou na base. Merecedor demais, eu acho que dos técnicos que trabalhei, ele é o melhor. Um cara que sabe muito, entende muito, é do bem, conquistou todos os títulos possíveis da base e não tinha mais o que fazer lá. Tenho certeza que a escolha certa para o São Paulo é ele.
Duelo contra o Bayern de Munique
O Bayern começou o jogo vindo pra cima e a gente não pegava nem na bola. Ficamos com o sentimento de que íamos tomar quatro ou cinco, mas conseguimos impor nosso jogo e acho que merecíamos ter saído com a vitória. Para dar certo precisamos impor nosso jogo, não importa o adversário.
Agora tem o jogo contra o AEK Atenas na Champions League, e estamos com o mesmo sentimento de ir lá, mostrar nosso futebol. Creio que se a gente continuar fazendo o que estamos fazendo nas outras partidas, o resultado vem naturalmente.
Seleção brasileira
Todo jogador sonha em jogar uma Copa do Mundo pelo seu país e isso é um dos meus objetivos.
Não estou frustrado por ainda não ter sido convocado. O Brasil tem excelentes jogadores. Se eu ainda não fui é porque ainda não chegou minha hora, não estou preparado. Mas se eu continuar fazendo bem o meu trabalho, jogando bem, isso pode vir naturalmente.
Eu ainda não conheço o Neymar. Ele é um dos melhores jogadores do mundo e seria uma honra poder jogar ao lado dele, aprender com ele, seria uma grande satisfação.
Na minha posição tem Malcom e Douglas Costa que são bem habilidosos e estão evoluindo. Conheço o Malcom, pois joguei com ele na seleção sub-20. São grandes jogadores, excelentes, jogam em grandes clubes. O Douglas Costa está em um nível acima da gente. Eu creio que apesar do Malcom estar no Barcelona, ter ido em uma convocação, acho que a gente está em um nível parecido.
O próximo passo
O que eu tenho na cabeça como meta é evoluir o máximo possível, ser um nome lembrado no Ajax, fazer minha parte. Quando der um próximo passo, que seja algo grande e não para regredir na carreira. Quando eu tiver essa oportunidade, quero estar 100% preparado. Gosto da Premier League demais. Também do Campeonato Espanhol e do Italiano. Vamos ver.
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