Com decretos armamentistas de Bolsonaro, lucro da Taurus cresce 507%
Somente no quarto trimestre de 2020, a Taurus lucrou 279,5 milhões
Bolsonaro alterou quatro decretos federais com o objetivo de ampliar o acesso a armas
Edson Fachin, do STF, já votou pela inconstitucionalidade dos decretos
A Taurus, fabricante brasileira de armas de fogo, registrou um lucro líquido de R$ 263,6 milhões em 2020, uma alta de de 507% frente ao desempenho de 2019, quando a fabricante havia somado R$ 43,4 milhões. Esse resultado é influenciado por decretos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que, desde 2019, tem flexibilizado a posse de armas.
Em junho de 2019 Bolsonaro modificou um decreto de 2004, que regulamentava o Estatuto do Desarmamento. Entre as mudanças, está o direito à compra de até 50 cartuchos por ano que passou para até mil cartuchos por ano e a permissão para o proprietário rural com posse de arma de fogo utilizar a arma em todo o perímetro da propriedade.
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As medidas foram celebradas por apoiadores de Bolsonaro e por figuras da indústria armamentista. Em 2020, o número de novos registros de armas de fogo nas mãos de civis no Brasil aumentou 90%. A Polícia Federal autorizou o registro de 179.771 novas armas de fogo em 2020, um aumento de mais de 91% em relação a 2019.
Somente no quarto trimestre de 2020, a Taurus lucrou 279,5 milhões, ante R$ 22,1 milhões um ano antes. A receita líquida da Taurus cresceu tanto no intervalo de outubro a dezembro quanto no acumulado de 2020, somando R$ 560,3 milhões e R$ 1,773 bilhão, respectivamente.
“Os indicadores operacionais atingiram níveis sem precedentes para a Taurus e a questão do endividamento, que era um aspecto sensível, foi plenamente equalizada, com a razão de alavancagem dívida líquida/Ebitda saindo de 11,2 em 2018 para 1,7 ao final de 2020”, disse a companhia em um comunicado.
Novos decretos
Neste ano, Bolsonaro alterou quatro decretos federais com o objetivo de desburocratizar e ampliar o acesso a armas de fogo e munições no país. A medida autorizou atiradores possam adquirir até 60 armas e caçadores, até 30.
A quantidade de munições que podem ser adquiridas por essas categorias também mudou, que passam a ser 2 mil para armas de uso restrito e 5 mil para armas de uso permitido.
Outra mudança foi permitir que profissionais com direito a porte de armas, como Forças Armadas, polícias e membros da magistratura e do Ministério Público, possam adquirir até seis armas de uso restrito. Antes, esse limite era de quatro armas.
As novas medidas, entretanto, foram parar no STF (Supremo Tribunal Federal). Em julgamento que se iniciou no último dia 12, o ministro Edson Fachin votou pela inconstitucionalidade de decretos.
Os ministros analisam uma ação apresentada pelo PSB que questiona os decretos de Bolsonaro. O julgamento foi suspenso pela ministra Rosa Weber e não há data para a retomada.