Chelsea mudou o mercado com Abramovich, mas agora pertence a americanos
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SĂO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ă impossĂvel saber o que o russo Roman Abramovich, 55, pensa sobre os 19 anos em que foi dono do Chelsea. Avesso Ă imprensa, seus pronunciamentos foram dados sempre por meio de assessores ou por escrito.
NĂŁo se conhece nem com exatidĂŁo onde ele vive. Talvez em Israel, talvez no The Eclipse, seu iate gigante e luxuoso construĂdo por US$ 700 milhĂ”es (R$ 3,55 bilhĂ”es pela cotação atual).
O fato Ă© que Abramovich mudou o mercado do futebol mais uma vez na Ășltima sexta (6) Ă noite, ao fechar negĂłcio para vender o atual campeĂŁo europeu e mundial por US$ 3,1 bilhĂ”es (R$ 15,75 bilhĂ”es). Nenhuma equipe de qualquer esporte jamais havia sido negociada por um valor tĂŁo alto.
Antes disso, em 2003, ao comprar a agremiação quase falida, mal-administrada pelo inglĂȘs Ken Bates, o magnata que fez fortuna ao comprar estatais russas apĂłs o colapso da UniĂŁo SoviĂ©tica, inflacionou o futebol com os valores de contrataçÔes e salĂĄrios. Um caminho que depois seria seguido por novos ricos do mundo da bola, como Manchester City e Paris Saint-Germain.
O consórcio que passa a controlar o time londrino é liderado pelo americano Todd Boehly, que também tem participação no Los Angeles Dodgers, uma das franquias mais tradicionais da MLB (Major League Baseball), a liga profissional de beisebol dos Estados Unidos.
Boehly esteve em Stamford Bridge neste sĂĄbado (7) para assistir ao empate em 2 a 2 com o Wolverhampton, pela penĂșltima rodada da Premier League. Em 3Âș lugar, estĂĄ garantido na prĂłxima Champions League, o torneio mais lucrativo do planeta.
Segundo o texto divulgado pelo Chelsea, os US$ 3,1 bilhÔes serão mantidos intocados em uma conta com a intenção de que seja integralmente doado para entidades filantrópicas, como havia sinalizado Abramovich.
Para a venda de qualquer equipe da Premier League ser finalizada, Ă© preciso a chancela do governo britĂąnico e do prĂłprio ĂłrgĂŁo que administra o campeonato. Na teoria, Ă© investigado se os compradores tĂȘm integridade pessoal e financeira, o chamado "fit and proper test".
O sistema jĂĄ foi questionado no passado por causa das vendas do Manchester City e do Newcastle para empresas ou pessoas ligadas, respectivamente, Ă s famĂlias reais dos Emirados Ărabes e da ArĂĄbia Saudita --paĂses acusados de usar investimento no futebol como arma geopolĂtica, em uma tentativa de mudar a imagem de governos sem respeito aos direitos humanos. A estratĂ©gia Ă© batizada de sportswashing.
"AlĂ©m disso, os novos donos se comprometem a investir 1,75 bi de libras [R$ 11 bi pela cotação atual] em benefĂcio do clube. Isso inclui investimentos em Stamford Bridge, a academia, time feminino e Kingsmeadow [estĂĄdio usado por elas] e continuar a financiar a Fundação Chelsea", diz o comunicado divulgado apĂłs a venda.
A confirmação da negociação Ă© esperada para o final deste mĂȘs, o que deve colocar Boehly e seus sĂłcios em condição de tambĂ©m definir a estratĂ©gia para o elenco profissional masculino. A nova temporada da Premier League começarĂĄ em agosto.
O tĂ©cnico Thomas Tuchel, que levou o time ao tĂtulo da Champions League de 2021 e ao Mundial deste ano, jĂĄ disse esperar continuar.
A troca de dono se tornou inevitĂĄvel por causa da Guerra da UcrĂąnia. O governo do Reino Unido impĂŽs sançÔes a magnatas russos com bens no paĂs e vistos como ligados a Vladimir Putin. Um deles foi Abramovich, o empresĂĄrio que se apaixonou pelo futebol ao assistir a Manchester United x Real Madrid, pelas quartas de final da Champions League de 2003, em Old Trafford.
Foi naquela noite que decidiu: precisava ter seu prĂłprio time. Flertou com alguns antes de escolher o Chelsea. Desde entĂŁo, a maneira como obteve sua fortuna Ă© questionada, assim como sua relação de proximidade com Putin. Abramovich chegou a se oferecer para mediar a paz entre RĂșssia e UcrĂąnia e acabar com a guerra.
No inĂcio de março, ele divulgou comunicado afirmando que, de forma relutante, aceitava vender o Chelsea. Como parte das puniçÔes, o governo britĂąnico havia congelado todo o seu patrimĂŽnio no paĂs. O clube estava incluĂdo.
A equipe entrou em um limbo desde entĂŁo. Passou a estar proibida de comprar ou vender jogadores e gerar qualquer tipo de receita. Patrocinadores cancelaram contratos, e o futuro em campo se tornou duvidoso.
Abramovich fez do Chelsea seu projeto pessoal. Investiu quase US$ 2 bilhÔes (R$ 10,2 bilhÔes pela cotação atual) de sua fortuna pessoal para não deixar as contas no vermelho. Nos primeiros anos sob seu comando, chegou a perder US$ 1 milhão por semana (R$ 5,1 milhÔes).
Em campo, o russo fez do seu clube uma força do continente europeu. Foi cinco vezes campeĂŁo inglĂȘs (antes disso tinha apenas uma conquista, em 1955) e chegou a trĂȘs finais da Champions League. Venceu duas vezes, em 2012 e 2021.
Das 20 equipes que disputam a Premier League na atual temporada, 7 pertencem ou tĂȘm participação de americanos. AlĂ©m do Chelsea, estĂŁo na lista Arsenal, Aston Villa, Burnley, Crystal Palace, Liverpool e Manchester United. O Fulham, que vai disputar o torneio em 2022-2023, tambĂ©m Ă© de um empresĂĄrio dos Estados Unidos.
Uma das principais questÔes sobre a venda do Chelsea é como vai ficar o projeto da Superliga, o megacampeonato entre os principais times do continente. A ideia encontrou tamanha revolta no Reino Unido que sofreu intervenção do governo, e Abramovich foi o primeiro a pular fora do barco, levando o Chelsea junto.
Além dos espanhóis de Barcelona e Real Madrid, os maiores entusiastas do projeto são os americanos donos de clubes na Inglaterra. Agora eles podem ter encontrado mais um aliado.