De atletas a celebridades: Alexsandro “Pit” Cardoso fala como é ensinar boxe
Alexsandro Rocha Cardoso, conhecido como “Pit”, foi um lutador profissional de boxe conhecido pelo seu estilo técnico e forte pegada no certame brasileiro. Capixaba de origem e hoje residente da capital paulista, começou seus treinos em Vila Velha no Espírito Santo sob o atento olhar do pai, aficionado da nobre arte. Cardoso alcançou o sucesso nos ringues e maior ainda como professor da modalidade para atletas de alto rendimento do boxe, MMA e destacadas figuras.
No campo esportivo tem como pupilos o lutador de kickboxing Paulinho Tebar que migrou para o boxe, sendo campeão brasileiro; Fernando Cruel, atual campeão sul-americano de boxe; o atleta de MMA Viscardi Andrade e membros da equipe Top Strike Team e o popular gamer BRTT, hexacampeão de League of Legends. Entre as figuras públicas trabalha com a influenciadora Pietra Bertolazzi; Luiz Otávio Mesquita, filho do apresentador Otávio Mesquita, entre outros.
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Cardoso se inspira em nomes lendários do quadrilátero como o mexicano Julio César Chávez e os estadunidenses Sugar Ray Leonard e Marvin Hagler e deixou a modalidade invicto com um cartel de 13 vitórias, sendo 12 pela via rápida.
Como atleta amador foi membro da equipe de São Caetano nos anos 2000 capitaneada pelo lendário medalhista olímpico Servílio de Oliveira e seus filhos Gabriel e Ivan “Pitú”. No lado professor além de ser tido como atencioso e estudioso também se destaca pela discrição, uma vez que além dos já citados treina outras figuras que prezam pela privacidade.
Em entrevista ao Yahoo Esportes, Cardoso fala de sua jornada como profissional, como agregar conhecimento acadêmico ao empírico e o trabalho feito com figuras que lidam desde as pressões do esporte de alto rendimento até as atribulações de serem figuras públicas que vão do assédio até mensagens de ódio.
Yahoo Esportes: Como se deu seu início no mundo das lutas?
Alexsandro “Pit” Cardoso: Meu início foi complicado, se deu mais por afirmação do que propriamente amor ao esporte, porém curti muito a jornada, pois quando eu me dedicava, botava amor nas luvas, tinha grandes resultados, consegui ingressar na seleção brasileira e defendi um dos melhores times de boxe que o Brasil teve, era quase uma seleção brasileira, o São Caetano, que na época era coordenado por Servílio de Oliveira, tendo seu filho Gabriel de Oliveira na liderança técnica, e posteriormente, Ivan de oliveira, “Pitú”, também filho de Servílio.
Lá aprendi muito, cresci, lutei pelo orgulho e por orgulho, fiz uma boa campanha e fui escolhido o melhor lutador de São Paulo em 2003. Entretanto, grande parte de mim estava atrelada a outras necessidades pessoais, acho que este foi o fator preponderante para que eu largasse o profissionalismo cedo, perdi forças para correr atrás.
Quais são as diferenças em se treinar atletas para boxe tanto amador quanto profissional e para o MMA?
Ao meu entendimento, apesar de os golpes e técnica que ensino para as modalidades serem iguais, no MMA, no boxe profissional, e no boxe amador; porém, entendo que a diferença entre estes esportes, é o ritmo da aplicação dos golpes, e algumas observações no que concerne aos tipos de fundamentos de defesa, como, por exemplo, os bloqueios de guarda, que para o MMA podem ser definitivos, e nós dois estilos de boxe (amador e profissional) são bem usados.
E para mim o que diferencia também o boxe profissional para o boxe amador são também o ritmo e a cadência, para entendermos melhor basta olhar a quantidade de rounds que um profissional luta (até 12 assaltos), e quantidade de rounds que o amador luta (até 3 assaltos), ou seja, são ritmos diferentes a serem cadenciados.
Dentro do MMA, o que diferencia o boxe em relação às outras modalidades de golpes de impacto como Muay Thai, karatê e taekwondo?
Nas lutas que exigem maiores distâncias, como Muay Thai, karatê , taekwondo, e outras lutas que envolvem golpes de perna, a aplicação das mesmas exigem um tipo distância para que seus golpes sejam mais decisivos, a não ser o joelho, que é usado em curta distância; já o boxe bem aplicado dentro de sua distância, o qual também depende do tipo de adversário a ser enfrentado, pode jogar nas três distâncias: longa, média e curta, nas quais também podemos aplicar maiores volumes de golpes, além dos tipos de defesas diferentes para prosseguir a luta, sendo assim a diferença é que o boxe oferece um alto volume de golpes a ser desferido em relação às outras modalidades.
Como lutador tem um cartel invicto. O que pode falar desta fase na sua vida?
Lutei até onde foi possível, realizei 16 lutas profissionais, fui campeão brasileiro profissional entre as categorias meio-pesado e cruzador tendo vencido a maioria das lutas por KOT (nocaute técnico).
Com isto pareceu que surgiriam oportunidades, fiquei esperando e confiando, mas conforme as oportunidades não se concretizavam o tempo passava e junto às necessidades aumentavam ainda mais se tem algumas pessoas que dependem de você, então tive que abrir outros leques de opções de profissionalismo.
Senti que poderia ensinar, que tinha algo bom para passar de tudo aquilo que carreguei de passagem, resolvi sair do mundo prático, e adicionar tudo do mundo teórico acadêmico, para não ficar na inércia, já que com 31 anos na época, as lutas que me impulsionariam, as decisivas, não aconteceram, senti que era hora de olhar para os lados.
Você é o treinador de figuras públicas que não são lutadores profissionais. Quais são as diferenças de se trabalhar com alunos comuns, esportistas e celebridades?
Tenho algumas pessoas importantes nos seus respectivos cenários das quais estão envolvidas: desde a joalheiro internacional, gamers, estilistas de roupas, arquitetos, políticos, cineastas até pessoas de grande projeção do mundo corporativo.
A diferença está na intensidade e nas informações que procuro passar e tudo que ensino para “X”, também quero que o “Y” saiba fazer; no entanto, isso tudo depende muito do nível de evolução que estejam, logo quanto mais evoluído mais possibilidades, mais técnicas, mais repetições e nesta hora tudo flui de maneira suave, portanto uso didáticas diferentes para cada tipo de evolução, desde atletas e pessoas comuns, dentre estes os famosos, que treinam por recreação ou por terapia.
O mundo das celebridades e figuras públicas é muito disputado para se conviver além do assédio de fãs, imprensa e mensagens de ódio. Quais valores o pugilismo assim como outras lutas e artes marciais podem incutir em tais pessoas para que lidem com suas rotinas?
Neste determinado ponto, o boxe em si já entra com valor terapêutico, e, até profilático no que se diz a fisiologia; o boxe em si provoca reações bioquímicas ao cérebro e ao corpo através descarga de adrenalina, serotonina, endorfina e dopamina, das quais estes auxiliam na regulação de humor, de estresse e do controle das funções motoras.
Aponto isso considerando a para a parte pessoal de recreação e terapia através destes já consegui bons resultados que se relativizam com assédio e mensagens de ódio. Por fim, quanto aos valores, é de meu conhecimento e hábito procurar conhecer o aluno, e, dentro do universo dele procurar saber quais necessidades de valores, e partindo disso inserir junto com o boxe os valores que a modalidade traz: como honestidade, respeito e confiança.